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Atenção especializada em saúde oferece atendimento a pessoas surdas em Salvador

Na semana em que se comemora o Dia Nacional do Surdo, celebrado na segunda-feira (26), um serviço pioneiro, que começou há dois meses em Salvador, promete melhorar o atendimento a usuários do sistema de saúde municipal, dentro da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência. Desde julho passado, o Serviço de Psicoterapia Bilíngue, voltado para pessoas surdas e que tenham suspeita ou diagnóstico de transtornos mentais leves, foi implantado pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS) no Multicentro Liberdade.

O serviço chega como um ponto de partida importante na inclusão da pessoa surda à rede de atenção à saúde, com oferta de psicoterapia com profissional bilíngue. “Havia uma lacuna na cidade, pois não tínhamos um profissional psicólogo que fosse fluente em Libras. Por isso, a gente sentiu necessidade de trazer um psicólogo bilíngue para garantir assistência de qualidade à comunidade surda. Entendemos a necessidade da escuta qualificada, com sigilo, feito por uma pessoa que pudesse entender as necessidades do paciente, sem ter um intérprete entre um contato e outro”, disse a subcoordenadora de Ações Estratégicas da Atenção Especializada, Djara Mahim.

Acesso – Se a pessoa surda precisar do serviço, tendo transtorno mental leve, é preciso passar por triagem em um dos dois serviços parceiros da iniciativa. A Associação Educacional Sons do Silêncio (Aesos), no Imbuí, promove o acolhimento de segunda a sexta-feira das 8h às 17h. Já o Centro Docente Assistencial de Fonoaudiologia (Cedaf) da Ufba, no Canela, o acolhimento acontece às quartas-feiras pela manhã. Os documentos necessários são RG, CPF, Cartão SUS, comprovante de vacinação contra Covid-19 e audiometria, se houver.

Após o acolhimento e triagem em um desses serviços, ao ser identificado no perfil de atendimento de serviço psicoterapia bilíngue (suspeita ou diagnóstico de transtornos mentais leves), o usuário é encaminhado com data e hora marcada. Hoje, a unidade atende até 35 adultos e crianças por semana, de segunda a sexta-feira, das 7h às 13h.

A psicóloga bilíngue Ana Paula Melo é quem promove o atendimento. Segundo a profissional, a comunidade surda conta com mais de 120 mil pessoas no município, que precisam deste atendimento humanizado.

“Diferente de um atendimento clínico geral, é preciso ter uma atenção especial. Muitas questões dizem respeito à surdez e falta de comunicação, que causam transtornos nessas pessoas. Há um sentimento de inferioridade e a discriminação em casa, coisas que essas pessoas vivem por gerações no seu cotidiano. O projeto traz, então, um olhar para a comunidade de esperança. Hoje eles se identificam, e usam a linguagem para dizer que não dependem de mais ninguém, tendo alguém que escuta e dá atenção”, declarou Ana Paula.

Um dos exemplos destacados pela profissional é de uma paciente que, com alto grau de estresse, afirmou se sentir mais aliviada após o serviço, pois não tinha pessoas em casa ou ao redor para contar suas angústias. “A gente faz uma leitura da postura do usuário (do serviço). Então, quando eles entram no consultório, observamos como se senta, como se veste, e nas primeiras sessões essa usuária olhava sempre para baixo. Agora tem um outro astral, outra postura. E uma das coisas interessantes que ela falou na primeira sessão foi o atendimento em Libras ocorrido já na recepção. Ninguém tem noção do valor que foi para essa pessoa entrar pela primeira vez em uma instituição pública e, desde ali, se sentir acolhida, com alguém falando em língua de sinais”.

Capacitação da equipe – A técnica e psicóloga do Campo Temático da Pessoa com Deficiência da SMS, Mavie Kruschewsky, considerou importante frisar que a condução do serviço segue a Política Nacional da Pessoa com Deficiência, articulando com demais setores para identificar as barreiras de acesso dessas pessoas, a exemplo da comunicação.

“Começamos com um grupo de trabalho até chegar neste momento de termos uma profissional com expertise em Libras. É um avanço importante ofertar este serviço, pois, na lógica da inclusão, a gente precisa considerar a integralidade do cuidado, o sofrimento psíquico, mental, que também é um direito de tratamento dessas pessoas. Só em ofertar uma escuta sem intermediário já é terapêutico”, ressaltou.

Criado: 27 Setembro 2022

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