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Salvador 475 anos: O legado do Epucs, órgão que planejou avenidas de vale, bairros e moldou a cidade que conhecemos hoje

Foto: Lucas Moura / Secom PMS

Quem vai ao terceiro piso da Casa das Histórias, onde ela se conjuga ao prédio do Arquivo Público Municipal, se depara com uma mostra de mapas de Salvador trazendo sugestões de novas vias e avenidas, projetos para regiões da cidade com várias diferenças em relação às que conhecemos e plantas de edifícios que não chegaram a ser construídos. É bem fácil se perder no tempo procurando o seu bairro, identificando prédios tombados e, sobretudo, comparando a capital baiana do passado com a atual.

As plantas, feitas a mão, são, por si só, obras de arte, tamanho o cuidado empregado nas cores e tintas escolhidas e na precisão dos traços. Nelas, aparecem equipamentos como a Fonte Nova e lugares históricos como a Praça Castro Alves e a Ladeira da Montanha. Tudo isso integra o acervo do Escritório do Plano de Urbanismo da Cidade do Salvador (Epucs), um dos mais completos e pioneiros trabalhos de planejamento urbano da história do Brasil.

Coordenado por Mário Leal Ferreira e Diógenes Rebouças, o Epucs levantou na década de 1940 todos os dados imagináveis sobre Salvador: o relevo da cidade, o caminho das águas da chuva, o transporte coletivo, a circulação de automóveis, as características da habitação proletária e onde deveriam ficar escolas e hospitais. Foi o primeiro plano de urbanismo de Salvador e um dos mais importantes feitos no país na primeira metade do Século XX.

Precisamos de um plano

Àquela época, Salvador precisava de algo que a tirasse da estagnação. A cidade estava em crise, sem desenvolvimento econômico, enfrentando problemas sanitários e com a crescente população cada vez mais pobre. Era preciso um plano. O Brasil vivia a era Getúlio Vargas, em que a ordem era a modernização do Estado brasileiro e das cidades.

Criado em 1942 por Mário Leal Ferreira, o Epucs lançou bases do que vemos ainda hoje na cidade: a Centenário e outras tantas avenidas de vale; a harmonia da área universitária da Ufba com o relevo do Vale do Canela; as equidistâncias entre a Escola-Parque na Caixa D’Água e as várias escolas-classe ao redor, segundo o modelo de Anísio Teixeira. Todos os projetos dos anos seguintes adotaram – alguns muito, outros pouco – as ideias do plano.

Foto: Lucas Moura / Secom PMS

O Epucs lançou um método pioneiro de trabalho na área, com uma equipe multidisciplinar. Além de engenheiros e arquitetos, havia advogados, historiadores, botânicos, topógrafos, médicos e fotógrafos. “Mário Leal ativou uma rede imensa de pessoas para obter informações. Ele estuda muito as avenidas de São Paulo, entra em contato com Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, pega também o plano de Porto Alegre…”, conta Ana Maria Fernandes, professora de Arquitetura e Urbanismo da Ufba.

“Eles contrataram pessoas muito qualificadas. Tem estudos sobre meio-ambiente, espécies vegetais, ventilação e insolação. Também estudos sobre o desenvolvimento do Recôncavo, ou seja, já tinham uma preocupação regional, com o olhar de que uma cidade nunca vive sozinha, mas sim da rede urbana à qual ela pertence. Então, era realmente um plano muito abrangente, que reuniu muita gente boa de Salvador”, completa Ana Maria.

As avenidas de vale

Mário Leal era engenheiro, mas era fascinado pela topografia. Diógenes Rebouças, seu braço direito, também. Assim, o Epucs nasceu com muito respeito ao relevo de Salvador. O escritório identifica que, até a década de 1940, a cidade estava toda na parte alta dos morros, onde as pessoas moravam. Os vales entre eles não eram ocupados: eram em sua maioria hortas, uma espécie de zona rural urbana.

Desse conjunto, surge o legado talvez mais perceptível do Epucs nos dias atuais: o conceito de vias de vale e vias de cumeadas. A ideia é que as avenidas de fluxo rápido sejam pelos vales, enquanto as ruas ligando os bairros fiquem sobre os morros. É quase um sistema de circulação em dois andares: um por cima, mais lento, para o cotidiano; outro por baixo, de velocidade, para vencer grandes distâncias.

Foto: Lucas Moura / Secom PMS

É a relação, por exemplo, entre as atuais avenidas Anita Garibaldi e Cardeal da Silva, ou da Reitor Miguel Calmon com as ruas Padre Feijó e Caetano Moura. O conceito das avenidas de vale é um dos mais importantes lançados pelo Epucs, e foi – mais ou menos – adotado por todas as gestões a partir dele: Vale de Nazaré, Vale dos Barris, Ogunjá, Vasco da Gama e a Bonocô – que, não à toa, leva o nome de Av. Mário Leal Ferreira.

Avenida Centenário

O exemplar mais fiel ao conceito lançado pelo Epucs está na Avenida Centenário, na Barra. Ela é, de fato, uma ‘parkway’, ou avenida-parque, como sugeriram Mário e Diógenes para os vales de Salvador: uma pista com vias marginais de acesso às cumeadas, que não prejudicam as faixas centrais, que são expressas e de alta velocidade.

A avenida começou a ser implantada em 1949, nas comemorações do quarto centenário da fundação de Salvador. Mário, porém, não viu o principal exemplar da sua ideia, pois faleceu de forma repentina em março de 1947. Diógenes então assumiu a direção, completando o plano. É ele quem assina o projeto da Centenário.

Ali, vemos aplicado um traço fundamental do conceito: as ‘parkway’ correm em diferentes níveis, sendo que, ao centro, na cota mais baixa de todas, há um rio canalizado, que recebe as águas das chuvas que vêm dos arredores. Eis um marco: pelas avenidas de vale correriam também os principais sistemas de drenagem e de esgotamento da cidade.

Foto: Acervo Epucs

Era o respeito à topografia, afinal, a água da chuva sempre escorre para o ponto mais baixo. Temos aí um legado mais técnico, mas de enorme impacto para quem é da área, já que o escritório levantou em detalhes a topografia da cidade,mapeando todo o seu sistema de drenagem. Essas bases são utilizadas até hoje.

A Escola-Parque

No final dos anos 1940, Anísio Teixeira, secretário de Educação da Bahia, propôs a criação das Escolas-Parque, projeto revolucionário de ensino em tempo integral no país. Num turno, um grupo grande de alunos se concentraria na Escola-Parque, com atividades de esporte e cultura, enquanto vários grupos menores seriam distribuídos em Escolas-Classe, com aulas de português, matemática e outras matérias. No outro turno, os alunos trocariam de lugar, sempre concentrando na Escola-Parque e dispersando pelas Escolas-Classe.

Anísio e Diógenes, então, sentaram para desenvolver o projeto e pensaram na Liberdade, já um bairro populoso de Salvador. Definiram que a Escola-Parque ficaria perto do Largo do Tamarineiro, que centralizava quatro zonas urbanas, ou sub-bairros, cada uma com a sua Escola-Classe. Tudo foi pensado: para que funcionasse, a distância entre as escolas não poderia ser grande, de forma que os alunos pudessem caminhar após o almoço.

A ideia era implantar até 10 Escolas-Parque na cidade, mas o único exemplar a sair do papel foi o original, o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, na Caixa D’Água. O projeto não prosperou em Salvador, mas a genialidade de Anísio e Diógenes virou modelo para o Brasil.

Nivaldo Andrade – Foto: Lucas Moura / Secom PMS

“Anísio foi trabalhar no Governo Federal e adotou esse projeto na construção de Brasília. O Rio de Janeiro criou mais tarde os ‘Ciep’, baseados na Escola-Parque. Mais recentemente, quando foi prefeita de São Paulo, Marta Suplicy criou os ‘Ceu’ inspirados nessa ideia. Ou seja, é um conceito extremamente importante, criado na Bahia e que até hoje está em pauta na educação”, explica Nivaldo Andrade, professor de Arquitetura e Urbanismo da Ufba.

Centros cívicos

O Largo do Tamarineiro, por sinal, remonta a outro modelo proposto pelo Epucs: os Centros Cívicos. A ideia era que cada conjunto de três ou quatro bairros nas cumeadas tivesse um núcleo central, onde estariam concentrados os serviços essenciais para os moradores como comércio, delegacia, hospital, bancos etc. Nos mapas, esse esquema remonta aos trevos, sendo os bairros as quatro folhas e o Centro Cívico o miolo.

Interligando as ‘folhas’ estariam as vias de cumeadas, num desenho orgânico. A ideia traria facilidade para o cotidiano das pessoas, tornando os afazeres do dia a dia mais acessíveis. “Como Salvador tem uma topografia acidentada, esses morros ficam isolados uns dos outros, então cada conjunto de bairros criou uma identidade própria. Então, para cada um deles, haveria um Centro Cívico respeitando essa marca”, explica Nivaldo Andrade.

Outros marcos foram legados do Epucs. Até 1950, Salvador não tinha hotel e teatro modernos, e o plano orientou a implantação do Hotel da Bahia e do Teatro Castro Alves no Campo Grande. Antes mesmo da criação da Ufba, em 1946, o escritório já havia estudado a melhor localização para o campus.

Foto: Lucas Moura / Secom PMS

Alguns loteamentos foram criados seguindo a visão urbana do órgão, de aproveitamento do relevo e muitas áreas verdes: o Parque Cruz Aguiar, no Rio Vermelho, o Jardim Apipema, o Chame-Chame e o Morro do Ipiranga, todos na Barra, são exemplos. A habitação proletária também foi pensada: o escritório defendia que o Estado deveria intervir adquirindo terras e subsidiando a moradia popular para regular o mercado.

Mário e Diógenes

O mais curioso de tudo é que Mário Leal Ferreira não era urbanista e não tinha histórico de trabalhos na área. Quando a Prefeitura estava em busca de um escritório, o favorito era o Coimbra Bueno, com a grife de Alfred Agache, francês autor do plano de modernização do Rio de Janeiro. Mário fica sabendo, vê a oportunidade e começa a trabalhar para que ele mesmo seja o escolhido. Engenheiro nascido em Santo Amaro, ele já tinha contratos com o Estado e conhecia o governador Landulfo Alves.

Mário havia participado da concepção da Fonte Nova, onde se impressionou com Diógenes Rebouças. Com apenas 28 anos, o engenheiro sugeriu mudar o estádio de lugar e apoiá-lo na encosta de Nazaré, o que diminuiria custos e criaria um elemento menos impactante na paisagem. É dele também a ideia do formato de ferradura, com a abertura para o Dique do Tororó. Mário pensa ‘esse jovem tem talento’ e o chama para ser o seu braço direito.

Foto: Acervo Joaquim Leal Ferreira

Talvez esteja aí o segredo de Mário, que acabou sendo contratado: sem uma fórmula de urbanismo pronta, ele decidiu criar um método novo e próprio de trabalho. “Era aquele tipo de pessoa que, quando se destina a fazer algo, estuda tudo, levanta tudo, ouve a todo mundo. Era obstinado, queria dominar o assunto a fundo”, explica Ana Maria Fernandes.

“Tinha também uma coisa de abrir o escritório para a discussão pública. Isso é algo muito legal de Mário, pois ele falava que o plano não pode ser o resultado do trabalho de uma só pessoa, ele tem que ser submetido à crítica da sociedade. Então, havia um compromisso dele muito forte com o bem público e com essa vontade de tornar a coisa um pouco mais coletiva”, completa a professora.

Ana Maria Fernandes trouxe o Epucs de volta aos olhos de Salvador

Quando chegou a Salvador nos anos 1980 para ser professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Ufba, a paulista Ana Maria Fernandes percebeu que na cena acadêmica da Bahia só se falava do Epucs. Era um trabalho de referência, fundamental para entender o que havia sido estudado na capital baiana.

Já nos anos 2000, Ana Maria integrava uma rede de pesquisas que tentava recuperar a memória do urbanismo no Brasil. Foi assim que ela chegou ao antigo prédio do Arquivo Público Municipal, no Pelourinho, onde havia uma sala em que estava o acervo do Epucs.

“Eu tomei um susto. Era, na verdade, um monte de plantas enroladas e guardadas, sendo que algumas delas já estavam até petrificadas. Pensei ‘poxa, eu escuto falar tanto do Epucs desde que cheguei à Faculdade, tanta coisa sobre o Mário Leal e sobre o Diógenes, como é que esse acervo chega a esse ponto’? Aquilo me deu uma tristeza enorme”, conta.

Foi assim que começou o trabalho de restauração do acervo do Epucs, finalizado em 2014 e que hoje permite a belíssima exposição na Casa das Histórias. Lá está apenas uma parte do arquivo, que contém mais de 4,6 mil peças e que está disponível para consulta digital. O projeto foi contemplado com um edital do Petrobras Cultural e a criação de um livro com toda essa memória.

“O material que foi produzido pelo Epucs, sobretudo o material gráfico, é de uma qualidade tão inacreditável… O papel, as tintas, as cores, os traços, tudo. Quando eu estava nesse projeto, eu só pensava assim: ‘eu devo ao Epucs algo de tanta qualidade quanto o que eles fizeram’. Eu me cobrava no cuidado com os mínimos detalhes, porque você sentia lendo aqueles documentos que cada detalhe presente ali foi muito pensado, muito refletido, muito pesquisado”, afirma a pesquisadora.

Durante a recuperação, o grupo realizou exposições em escolas públicas “tentando motivar as pessoas a também pensarem sobre a cidade”, diz Ana Maria. “Porque a Salvador atual é produto de milhões de agentes, de visões de mundo, de preocupações com o social e de alguma mesquinhez, também. Então, acho que essa exposição na Casa das História é uma vitória muito grande, pois traz mais pessoas para essa discussão”, completa.

“Tomara que o prestígio que o Epucs tem na Casa das Histórias seja ampliado para outros projetos, para que mais acervos sejam restaurados e sejam colocados à disposição do público, para que todos possamos crescer com esse conhecimento. E, também, para que a gente continue se encantando com essas peças, que são muito importantes para a nossa experiência aqui”, afirma Ana Maria.

Reportagem: Vitor Villar / Secom PMS

Salvador 475 anos: Casa das Histórias reúne panorama de vivências do povo soteropolitano

Foto: Lucas Moura / Secom PMS

Se uma cidade é formada por sua gente, a história de um lugar pode ser encarada também como a soma de várias histórias pessoais. Em seus 475 anos, Salvador foi e continua sendo moldada por quem vive nela. E foi para dar protagonismo a essas pessoas que a Casa das Histórias de Salvador (CHS) reuniu uma pequena amostra do povo soteropolitano.

É no terceiro andar da Casa das Histórias que os visitantes encontram o coração do casarão, ou pelo menos onde está mais evidente a inspiração para o nome do edifício e sua razão de existir. Fica neste pavimento um conjunto de relatos de soteropolitanos, pessoas que fazem a capital baiana ser o que é. São histórias, saberes e fazeres da gente de Salvador, personagens com os quais nos identificamos e nos quais muitas vezes nos vemos de alguma forma.

Na exposição “Revelando Histórias”, estão reunidos 24 retratos de mulheres, homens e crianças comuns, de variadas etnias, lugares, idades e profissões. E abaixo de cada um desses retratos, o visitante, com um fone de ouvido, conhece um pouco das histórias dessas pessoas. Muitas vezes ignoradas ou deixadas em segundo plano pela história oficial, essas vivências são parte essencial da Casa, primeiro centro de interpretação do patrimônio de Salvador, inaugurado no final de janeiro deste ano. Eles falam sobre suas experiências, pertencimento, suas relações com a cidade – ou mais especificamente com bairros de Salvador – e suas conexões com aspectos como a religião, ou até mesmo o mar.

Foto: Lucas Moura / Secom PMS

É o caso, por exemplo, de Arivaldo Souza Santana, conhecido como Ari Pescador. Líder de uma colônia de pescadores em Itapuã e filho de Iemanjá, ele não só retira do mar o seu sustento, como mantém uma “coisa espiritual” com a água salgada. “O prazer de estar na água e sentir a energia te puxando pra aquilo…eu nunca saí do mar sem uma pescaria, já passei até seis horas mergulhando. Você fica pensando e decide muita coisa quando está mergulhando, pensa como perdoar quando está em conflito. Tudo isso flui no mar”, diz. Casado há 32 anos, ele conta que até mesmo o matrimônio deve ao mar. “O mar tem uma importância muito grande na minha vida. Tudo que tenho na vida veio do mar, alivio minha mente no mar, minha filha pesca comigo”, afirma.

Salvador tem, além da porção continental, três ilhas: Ilha de Maré, Ilha dos Frades e Bom Jesus dos Passos. Nesta última, vive a publicitária e advogada Daniela Passos. “A ilha é meu lugar no mundo, nosso cantinho. As melhores memórias estão lá. Fui morar em Bom Jesus dos Passos aos cinco anos”, lembra. Em seu relato, ela destaca como ocorre localmente a celebração do Dois de Julho, data da Independência do Brasil na Bahia. Na véspera da data, portanto ainda no dia 1º de julho, moradores saem às ruas segurando fachos de fogo. Segundo a tradição oral, o momento remete a uma estratégia usada contra os invasores durante a guerra pela Independência. “Se conta que, pra que não invadissem a ilha, cada um segurava vários fachos acesos, e dava a impressão de que era muita gente”, diz Daniela.

Foto: Lucas Moura / Secom PMS

Um aspecto muito importante na concepção da Casa das Histórias é o destaque à contribuição indígena e negra para a formação da cidade. Vindo da região Sul do estado, Niotxarú Pataxó aponta a importância de valorizar a cultura indígena do passado e do presente na capital baiana, onde trabalha com Educação. “Essa diversidade de Salvador me marca. Isso é muito meu também, tentar preservar não só a história, mas a vivência, principalmente porque os povos indígenas estiveram e passaram por aqui”, ressalta. Entre as experiências pessoais mais marcantes vividas na cidade, Niotxarú compartilha a vez em que saiu no Carnaval, junto com o filho, em uma ala indígena junto com o afoxé Filhos de Gandhy.

Criado no bairro da Liberdade, o ator e afrochefe Jorge Washington reflete sobre as consequências de ter crescido sob a influência do Ilê Aiyê, primeiro bloco afro do país. “Quando vim pro centro da cidade, já foi com a negritude incorporada. Muito cedo a gente aprendeu a ter orgulho de ser preto; poder usar sua roupa colorida, seu black power, calça boca de sino”, diz. Segundo ele, ter nascido na Liberdade é “um privilégio”. “Tem uma pulsação diferente do resto da cidade, uma cultura negra enraizada. Um bairro que, na década de 70, tinha aquela turma feliz”, lembra, ao comentar sobre a participação das famílias e o forte sentimento comunitário em festas como o São João e a Semana Santa. “Todo mundo tomava conta de todo mundo. Já molecote, eu subia pro Carnaval da Liberdade, o meu Carnaval era vendo o Ilê. Eu tenho saudade disso”, recorda-se.

Os múltiplos olhares sobre Salvador incluem também a perspectiva da cidade para pessoas com deficiência (PCD). A advogada Mila D´Oliveira fala sobre os desafios de viver a capital baiana em meio às dificuldades com a mobilidade e acessibilidade. “Salvador é uma cidade onde a diversidade é uma grande característica. Quero manter minha identidade enquanto soteropolitana e que pessoas como eu consigam conviver com a cidade como eu convivo. Não quero estar afastada da cidade, quero estar nos eventos, nas manifestações culturais, entrar em todos os lugares”, afirma. Para ela, além da diversidade, um traço marcante de Salvador é o cultivo à alegria e ao prazer. “Estamos sempre em busca de estar bem. Isso é uma fonte de ensinamento”, defende.

Foto: Lucas Moura / Secom PMS

Esses são alguns dos relatos que formam o patrimônio humano da Casa das Histórias de Salvador. São narrativas nas quais estão refletidos os quase cinco séculos de Salvador. Assim, o casarão reúne os saberes e fazeres das pessoas comuns, muitas vezes não abordados pela história oficial, de modo que os visitantes reflitam sobre os sentidos da memória e do futuro da primeira capital do país.

Exposição dá voz às pessoas que fazem Salvador

Cada andar da Casa das Histórias de Salvador dá ênfase a um aspecto da capital baiana. No primeiro pavimento, estão as belezas naturais, o patrimônio anterior mesmo à construção da cidade. No segundo andar, é proposta uma reinterpretação da ideia de patrimônio, com foco não só em edificações, mas também em outros aspectos. E o terceiro pavimento é destinado ao povo, a quem construiu e constrói cotidianamente Salvador.

A curadora da Casa, Ana Helena Curti, explica que o objetivo da exposição “Revelando Histórias” foi criar um espaço de convivência e também uma experiência coletiva. “A ideia foi dar voz às pessoas que vivem em Salvador, trazendo essas histórias pessoais”, aponta Ana Helena. Com isso, foi montado um panorama o mais diverso possível da população soteropolitana.

Além de vozes múltiplas, a exposição também buscou selecionar relatos que pudessem agregar valor e conteúdo, envolvendo temas como festa, memória, território, pertencimento, entre outros. A exposição reúne gente de diferentes gêneros, idades, religiões, etnias, profissões, paixões e lugares.

Para a curadora, o terceiro andar da Casa aproxima o público do conteúdo exposto. Ao olhar para aqueles retratos de pessoas comuns enquanto ouvem os relatos no fone de ouvido, os visitantes se identificam com aquelas pessoas. “É como se alguém numa praça dissesse que quer te contar uma história. As pessoas se identificam, percebem que fazem parte da construção dessa cidade”, afirma a curadora.

A proposta, acrescenta Ana Helena, é de que, depois de uma visita ao espaço, “as pessoas possam sair com um olhar transformado, uma percepção diferente”. Passado pouco mais de um mês da inauguração da Casa das Histórias, mais de 20 mil soteropolitanos e turistas já foram conhecer essas e outras histórias.

Reportagem: Rodrigo Aguiar / Secom PMS

Salvador Contra a Dengue: ação permite inspeção de imóveis abandonados para combate ao Aedes

Fotos: Ascom/SMS

Para fortalecer as ações da mobilização Salvador Contra a Dengue, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), por meio do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), já realizou a abertura de 12 imóveis fechados e/ou abandonados da capital baiana, localizadas na Praia do Flamengo, Caminho das Árvores, Canela e Vitória. A atividade acontece após os agentes de endemias realizarem três tentativas de localização de alguns dos proprietários para abertura voluntária e posterior inspeção do local para eliminar possíveis focos e criadouros do mosquito Aedes aegypti, causador da dengue, zika e chikungunya.

Desses imóveis, seis necessitaram da ação do chaveiro para a realização dos trabalhados de inspeção salvaguardados pela lei federal 3.169/2023, enquanto outros seis foram abertos voluntariamente pelos proprietários. Na manhã desta quarta-feira (27), por exemplo, as atividades ocorreram no Corredor da Vitória e no Canela, sendo acompanhadas de perto pela vice-prefeita e titular da SMS, Ana Paula Matos, que explicou como acontece a ação na prática.

“São imóveis que representam riscos de foco de dengue e, consequentemente, riscos à população. Neste caso do Corredor da Vitória, por exemplo, por ser um imóvel abandonado desde 2015, acionamos a Defesa Civil e Sedur (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano) para uma primeira avaliação de segurança, permitindo a entrada dos agentes de campo. Após a abertura, normalmente, a Guarda Civil entra primeiro para vistoria da área e, em seguida, o trabalho de combate às arboviroses com remoção mecânica de possíveis focos, aplicação de larvicida e inseticida. Finalizada toda a atividade, o imóvel é devidamente lacrado novamente”, detalhou.

A gestora reiterou ainda que o melhor caminho é sempre o da prevenção, com mobilização e sensibilização voluntária de cada cidadão. Durante a ação de hoje, uma moradora avisou sobre outro imóvel fechado nas imediações, e as equipes vão avaliar a situação e planejar ações.  

“É preciso também que cada cidadão se conscientize sobre a importância de cuidar do seu imóvel, do seu quintal. Nós só fazemos esta operação quando não conseguimos sensibilizar os proprietários; então, nossa ideia é que as pessoas possam pedir e contar com nosso apoio. Mas, de fato, coloquem também em prática ações simples que evitar água parada”, completou Ana Paula.

Salvador 475 anos: A ligação ancestral entre a Barroquinha e o Engenho Velho da Federação

Foto: Acervo Casa das Histórias de Salvador

Distantes quase 6 quilômetros, a Barroquinha e o Engenho Velho da Federação guardam uma antiga conexão, desconhecida até por muitos moradores de Salvador, ligada à história das religiões de matriz africana na capital da Bahia. A Igreja da Barroquinha, do século XVIII, abrigou duas irmandades negras que mantinham, no entorno do templo religioso, cultos de religiões afro-diaspóricas, o que deu origem ao candomblé da Barroquinha. Anos depois, ao fugirem da perseguição religiosa no local, os negros se dirigiram à região do Engenho Velho da Federação e, com isso, surgiu uma comunidade repleta de terreiros de candomblé.

Localizada em uma depressão no centro de três colinas e formada em sua maior parte por terras devolutas, a Barroquinha foi aos poucos se tornando um bairro negro, desde o final do século XVIII. Boa parte da região era tomada por um brejo. Conforme a tradição oral, a irmandade negra Senhor Bom Jesus dos Martírios abrigou o surgimento do candomblé da Barroquinha. Dessa forma, a região próxima à Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Barroquinha tornou-se um território povoado por negros e negras, escravizados ou livres, que cultuavam orixás, inquices e voduns.

Mesmo próxima das instituições centrais, políticas, militares e eclesiásticas do Estado colonial, a Barroquinha se constituiu em um reduto jeje-nagô-iorubá, atraindo tanto grupos de resistência contra o governo colonial através da luta armada, quanto outros núcleos que buscavam uma política de integração social. Todos esses grupos usavam como fachada política, ou frente oficial, a irmandade do Senhor Bom Jesus dos Martírios. De acordo com os estudos, os cultos de matriz africana na Barroquinha também foram articulados sob a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, outra entidade com sede na Igreja da Barroquinha na época, o que reforça as antigas tradições do sincretismo baiano.

Max Haack / Arquivo Secom

Em 1807, começou no Centro de Salvador uma violenta política de repressão e perseguição, com as casas de cultos africanos tornando-se alvos muito visados pela polícia. Como a Barroquinha estava próxima ao aparato estatal, a situação era ainda pior para quem vivia nessa região. Também a partir de 1807, como reflexo do clima de tensão, tem início uma série de rebeliões e levantes de escravos, que se estende até 1835, ano da Revolta dos Malês. A partir de então, se intensifica uma espécie de “diáspora soteropolitana”, com muitos negros se refugiando em regiões mais distantes da cidade à época, como aquela que viria a se tornar o bairro do Engenho Velho da Federação e seus arredores.

É no Engenho Velho, inclusive, que fica o Terreiro da Casa Branca – o Ilê Axé Iyá Nassô Oká – considerado por muitos o mais antigo do país, com sua fundação estimada por volta de 1830. O terreiro teria, inclusive, surgido ainda em um terreno atrás da Igreja da Barroquinha, mais precisamente na Ladeira do Berquó. Muitas filhas-de-santo da Casa Branca do Engenho Velho pertenceram à irmandade católica de Nossa Senhora da Boa Morte. Em Cachoeira, onde sobrevive a irmandade, as devotas que nela se congregam são senhoras iniciadas no candomblé.

A Casa Branca foi o primeiro templo não católico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Histórico do Brasil, em 1986, após dois anos de processo. Apelidada “a Mãe de Todas as Casas”, a Casa Branca do Engenho Velho deu origem, de acordo com os estudiosos, ao Gantois e ao Axé Opô Afonjá, além de muitos outros terreiros fora da Bahia.

Foto: Divulgação

Considerado um monumento vivo e um legado no Brasil da grande civilização iorubana, o Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho tem muitos grupos étnicos na sua fundação, conforme reconhecem integrantes do templo religioso. Entre aqueles que participaram do surgimento do terreiro, estão, além dos oyós e do povo de Ketu, principalmente membros das etnias tapá, egbá, efan e ijexá, o que explica o culto aí prestado a divindades
originárias das regiões habitada por esses povos

Além da Casa Branca, o bairro Engenho Velho da Federação e seus arredores são endereço de muitos outros templos religiosos, entre eles o Odé Mirim, Bogum, Gantois e Oxumarê, por exemplo. Lar de terreiros de diversas tradições de matrizes africanas (como iorubá, bantu, jeje, ketu, angola, entre outras), a localidade é, portanto, um relevante espaço de resistência e de convergência da população negra soteropolitana.

Exposição propõe diálogos do patrimônio

A relação entre a Barroquinha e o Engenho Velho da Federação é uma das 24 relações entre passado e presente apresentadas no segundo andar da Casa das Histórias de Salvador (CHS), em uma exposição que estabelece conexões entre lugares do Centro Histórico e outras regiões da cidade. Em uma grande maquete do Centro Histórico expandido, estão destacados esses pontos.

Nas paredes da exposição “Diálogos do Patrimônio”, tais pontos são relacionados a outros locais ou aspectos da cultura soteropolitana. A exposição “tem diversos méritos, entre eles estabelecer conexões que ajudam a entender a capital baiana e também estender o conceito de patrimônio, tão caro a cidades como Salvador.

Para isso, a exposição vai buscar diálogos de todos os tipos. Seja, por exemplo, entre uma região do Centro Histórico e um bairro da cidade, como é o caso da ligação entre a Barroquinha e o Engenho Velho da Federação tendo como viés o desenvolvimento do candomblé. Em outros casos, é explorada a conexão de um lugar com um costume – a Fonte Nova, estádio localizado nas proximidades do Dique do Tororó, é relacionada aos tradicionais “babas”, comuns em qualquer bairro periférico de Salvador.

Foto: Paul Burley

“Decidimos ampliar a ideia de patrimônio, não só daquilo que é tombado e também de território. Fomos então além do espaço físico, com argumentos de diálogo. Desenvolvemos vários tipos de argumentos possíveis: culturais, históricos, geográficos”, explica Daniel Rebouças, doutor em História pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Ele foi um dos responsáveis pela pesquisa para a Casa das Histórias, o mais novo espaço cultural da cidade, inaugurado em janeiro deste ano.

“Essa conexão da Barroquinha com o Engenho Velho já estava colocada desde o começo da pesquisa, então era uma temática que precisávamos tratar na Casa”, acrescenta Rebouças. “Decidimos criar diálogos dos patrimônios com outros territórios da municipalidade, para que as pessoas também possam ter acesso a outros pontos relevantes para a dinâmica da cidade. Muitas vezes, a gente propôs um diálogo entre um patrimônio tombado, por exemplo, e outro com grande relevância”, reforça Ana Helena Curtis, curadora da Casa das Histórias.

“A ideia da exposição era abordar essa dimensão, de espaços que você às vezes não sabe que são conectados. A Igreja da Barroquinha abrigou grupos relacionados a terreiros, como o Casa Branca, do Engenho Velho; que é um bairro pequeno territorialmente, mas tem um número considerável de terreiros, proporcionalmente”, destaca Cleidiana Ramos, jornalista com doutorado em antropologia que atuou na consultoria para o desenvolvimento dos “Diálogos do Patrimônio”.

Texto: Rodrigo Aguiar / Secom PMS

Prefeitura institui programa de promoção à equidade de gênero nos espaços de trabalho da gestão municipal

Fotos: Valter Pontes/Secom PMS

A Prefeitura de Salvador criou mais uma iniciativa para promover a valorização e o empoderamento do público feminino da cidade. Nesta quarta-feira (27), durante realização do primeiro Encontro Mulheres Líderes da PMS, no Hotel Fiesta (Itaigara), o prefeito Bruno Reis assinou um decreto que institui o programa de promoção à equidade de gênero nos espaços de trabalho da gestão.

A iniciativa prevê a execução de ações que contribuam para o fortalecimento da autonomia de mulheres que trabalham nas secretarias e órgãos municipais. Uma das medidas é a elaboração, em até 90 dias, de um relatório com detalhamento da participação feminina em atividades internas e na prestação de serviços externos para registro e planejamento de ações afirmativas. O programa será coordenado pela Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ) e também contará com apoios das secretarias de Gestão (Semge) e de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda (Semdec).

Bruno Reis destacou que essa é mais uma estratégia para dar mais visibilidade à atuação e presença das mulheres nos ambientes de trabalho, ressaltando o protagonismo delas para o sucesso da gestão soteropolitana.

“Quando a gente compara com outras prefeituras do Brasil, não há nenhuma que tenha um percentual de mulheres maior do que o nosso. Aqui, as mulheres assumem posições de liderança e de destaque, decidindo políticas públicas que estão transformando a vida das pessoas. Este foi um compromisso meu desde o primeiro dia do nosso governo, na formação da nossa equipe”, disse.

A titular da SPMJ, Fernanda Lordêlo, explicou que o novo programa trará avanços nas políticas públicas do município e listou outras iniciativas já em curso, como o Selo Pacto pela Mulher – reconhecimento dedicado a empresas, associações civis e entidades públicas comprometidas na busca por igualdade de direitos.

“Vamos começar com ações articuladas e supervisionando atividades para que mais mulheres sejam contratadas, para que os nossos espaços estejam sempre e cada vez mais tomados, porque entendemos que uma política pública efetiva para a mulher precisa dar a elas garantia de emprego e renda”, afirmou.

Encontro – Realizado pela Semge, o Encontro Mulheres Líderes da PMS reuniu dirigentes, ocupantes de cargos em comissão e funções de confiança de secretarias e órgãos municipais, proporcionando momento de confraternização e qualificação profissional.

Para o secretário de Gestão, Rodrigo Alves, o encontro foi idealizado, sobretudo, como forma de reconhecimento. “A gente não conseguiria realizar todas as entregas que a gente faz pela cidade se não fosse o papel preponderante das mulheres nessa gestão. Então, a ideia foi reconhecer e tornar isso público, fazendo também com que elas se reconheçam nesse espaço de liderança”, pontuou.

Ao participar da mesa de abertura, a vice-prefeita Ana Paula Matos falou da importância da liderança feminina na administração pública: “Ser mulher líder é servir, amar, acolher e cuidar. Estamos ocupando diversos papéis numa gestão que tem mudado a realidade de milhares de famílias da nossa cidade”, revelou.

O evento também foi marcado por apresentações musicais e palestras educativas com a pedagoga especializada em comportamento humano dentro de organizações, Érika Linhares, e da CEO da ESG tech Nossa Praia, Dilma Campos.

Reportagem: Thiago Souza/Secom PMS

Saúde de Salvador intensifica ações de combate à dengue no feriado de Páscoa

Foto: Lucas Moura/Secom PMS

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS), por meio do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), estará realizando atividades preventivas e de eliminação de possíveis criadouros do vetor em diversos bairros de Salvador durante o feriado prolongado da Semana Santa. Serão quatro dias de ação com aplicação de inseticida costal e também UBV pesado (fumacê), integrando a mobilização Salvador Contra a Dengue, iniciada em fevereiro. 

“Estamos fortalecendo nossas atividades com este objetivo de proteger nossa cidade das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Nesta semana já realizamos diversas ações de combate e controle vetorial e seguiremos mobilizados durante todo o feriado. A população também pode contribuir com nossas ações denunciando focos do mosquito através do 156, do Fala Salvador”, declara a vice-prefeita e secretária da SMS, Ana Paula Matos.

Programação:

Dia 28 (quinta) – Inspeção para controle vetorial nos bairros de Castelo Branco, Engenho Velho de Brotas e Fazenda Grande do Retiro, e aplicação de inseticida UBV costal e inseticida de efeito residual nos Distritos Sanitários Brotas, Pau da Lima, Cabula/Beiru, São Caetano/Valéria, Liberdade e Subúrbio Ferroviário, além de aplicação de UBV pesada (fumacê) em Pernambués.

Dia 29 (sexta) – Inspeção para controle vetorial no Engenho Velho da Federação e Itapuã, e aplicação de inseticida UBV costal e inseticida de efeito residual em São Gonçalo do Retiro e Cabula.

Dia 30 (sábado) – Inspeção para controle vetorial e aplicação de inseticida UBV Costal e inseticida de efeito residual em Pau Miúdo, Engenho Velho da Federação, Boca do Rio e Itapuã.

Dia 31 (domingo) – Aplicação de inseticida UBV costal e inseticida de efeito residual em Águas Claras, Cajazeiras III, Cajazeiras VII, Vila 2 de Julho, Vila Canária, Saúde e Santo Antônio.

Texto: Ascom/SMS

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