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Evento dialoga sobre abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes

s dados alarmantes sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes no país e o combate à exploração infantil, por meio da educação e assistência especializada, mobilizaram a roda de conversa “O Marco do 18 de Maio na Garantia dos Direitos de Crianças e Adolescentes”, ocorrida nesta semana no auditório da Superintendência Regional do Trabalho (SRT), no Comércio. O evento foi promovido pela gestão do programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), coordenado pela Secretaria de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esporte e Lazer (Sempre).

A coordenadora do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan (Cedeca), Luciana Reis, uma das convidadas a palestrar, revelou que, de 2017 a 2020, 180 mil crianças e adolescentes sofreram algum tipo de violência sexual no Brasil, sendo uma média de 45 mil casos por ano. Outro dado abordado, com base na Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, vinculada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, mostrou que, no ano passado, 18.681 registros de violência sexual chegaram ao Disque 100. 

“Dizer que quase 80% das vítimas de violência sexual estão concentradas no perfil de crianças e adolescentes e que a maioria delas é de meninas revela muito sobre nossa sociedade. É o retrato de uma sociedade machista, patriarcal, misógina, sexista e de vários recortes sociais. Nenhuma estratificação, por si só, vai dar conta de manusear os dados, a ponto de apresentar a realidade do que as infâncias brasileiras vivem. Temos múltiplos brasis e infâncias dentro de um único país”, afirmou.

Luciana também falou sobre a importância da educação sexual, como mecanismo para que o público possa se proteger. “A relação de proximidade, no discurso dos autores das violências, é muito forte para as crianças. Crianças e adolescentes estão sendo violentados porque eles não conhecem seus corpos. Falar sobre isso é metodologia de autoproteção. É fazer com que as crianças conheçam os órgãos sexuais, onde podem ou não serem tocados. Isso é educação sexual”, reforçou. 

Laços de confiança – A psicopedagoga e psicóloga clínica, Meire Queiroz, também convidada, compartilhou as experiências vividas no atendimento individualizado e familiar, voltado às vítimas de violência. Ela defende que é necessário estabelecer um elo forte, para que o público, ao construir essa relação de confiança, possa pedir ajuda.

“É preciso se despir dos conhecimentos que temos e criar algo visceral, que é o vínculo com cada indivíduo. A criança quando é violentada e abusada não deixa de gostar do pai, mãe, vizinho, avó. Ela deixa de gostar dela”, afirmou.

Meire também trouxe a perspectiva de que o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes podem acarretar outras violências, ao longo da vida. “A mulher não sofre violência quando apanha do marido pela primeira vez. Ela sofre violência desde a infância, com o primeiro grito ou toque de um indivíduo, que foi a primeira porta para que ela viesse a sofrer a violência doméstica. Fica tão naturalizado que ela não consegue identificar”, pontuou.

Olhar estendido – A assistente social da Sempre e técnica de Referência do Peti em Salvador, Adriana Vieira, explicou que dialogar sobre a temática ajuda a ampliar o olhar dos profissionais que atuam nos Centros de Referência Especializados da Assistência Social (Creas), para identificar e auxiliar crianças e adolescentes que estejam vivenciando violência. Os Creas são espaços que funcionam como núcleos estruturantes, de um conjunto de ações sociais especializadas, voltadas ao atendimento do cidadão ou família, em situação de violação de direitos.

“É extremamente importante ter a escuta aguçada, para saber direcionar as vítimas. A exploração sexual é uma das piores formas de trabalho infantil. Por isso trazemos essa questão nos 365 dias do ano, porque a todo momento alguém está sendo violado e a gente não percebe. Elas buscam atendimento e voltam frustradas, porque não conseguiram explanar sobre a situação”, explicou.  

 

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